sábado, 30 de junho de 2012

Um patrimônio cultural que pede socorro

Adriano Freitas, Luan Amaral e Gilliano Motta


No dia 29 de dezembro de 1903 nasce o protagonista desta reportagem, Cândido Portinari, filho de imigrantes Italianos, Portinari vem ao mundo não para ser mais um, e sim, para marcar a muitos com seu dom artístico imensurável. Porém, nove anos depois de seu centenário, uma parte do que este artista proporcionou ao patrimônio histórico mundial pode virar ruínas devido ao descaso de determinados órgãos públicos.
Cândido Portinari tem quase cinco mil obras que vão de pequenos esboços à pinturas grandiosas como os painéis “Guerra e Paz” de aproximadamente 14 metros de comprimento por 10 de altura. Várias delas estão espalhadas pelo mundo e pelo Brasil, como a própria “Guerra e Paz” que foi um presente encomendado pelo governo brasileiro a Portinari para ser entregue a sede da ONU nos EUA, onde está até os dias atuais. 
Perante toda essa importância de Portinari no cenário cultural nacional e internacional, a primeira vista acredita-se que suas obras são tratadas da forma mais cuidadosa, para que estejam sempre preservadas, porém, a realidade não é esta, na cidade de Batatais, onde está o maior acervo sacro do artista, 14 telas (retratos da Via Sacra) vem sofrendo com o descaso dos órgãos responsáveis frente à ação do tempo e de cupins.
As telas de Batatais estão expostas na Paróquia Bom Jesus da Cana Verde desde sua criação, no ano de 1954. Elas foram pintadas para a igreja, como presente do artista à cidade, tanto, que até hoje, o padre responsável, Pe.Pedro Ricardo Bartolomeu, possui o documento que comprova que as telas são de posse da Igreja.
O CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) tombou as 14 telas da Via Sacra e, no ano de 1975, elas receberam sua última restauração. 
Trinta e sete anos depois, a restauração da Via Sacra da Paróquia Bom Jesus da Cana Verde volta a entrar na pauta, após diversas denúncias na Imprensa abordando o descaso dos órgãos competentes (Prefeitura, Igreja, CONDEPHAAT, IPHAN) para com as telas, pois elas vem sofrendo os desgastes do tempo e a ação de cupins.
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Batatais afirma que o processo de descupinização já foi feito por uma empresa contratada pela própria prefeitura, o que é corroborado pelo Padre da Paróquia, Pedro Roberto Bartolomeu.

A telas estão  instaladas em um local inadequado pois não possui as adaptações necessárias para a preservação das obras, o que, segundo a pesquisadora cultural Alessandra Baltazar é de extrema necessidade, pois fatores como a umidade, luminosidade dentre outros, são requisitos obrigatórias para se abrigar obras de arte. Tudo isso agravado ao livre acesso de qualquer visitante as obras, que são tocadas por qualquer um, fato comprovado pelo Padre que afirma ter marcas de dedos nas telas. O Pe. ainda afirma que já pediu à prefeitura que auxiliasse a Paróquia na construção de um local adequado para as Telas, com iluminação e climatização propícias as obras, mas, segundo ele, nada foi feito, “Isso só depende da autorização e da boa vontade do poder público”.
Mais do que o valor Religioso, as Telas da Via Sacra de Cândido Portinari carregam uma responsabilidade sentimental para com o povo Batataense, comprovada na fala da munícipe Helena Aparecida Moraes, que, além de artesã é a representante do Parque Simielli em Batatais, “O sentimento que tenho com relação às obras deste grande artista, é muito grande. Eu sou artesã, e sei como é difícil o trabalho cultural, e se as obras de um grande artista estão quase que encostada, imagina quem faz um trabalho mais simples, sem tanta evidência na cidade. Minha grande vontade teria sido de conhecer o Cândido como artista, e por isso, tenho tanto medo de perder esses trabalhos, pois é o que nossa cidade tem de mais valioso”. 
Relevante também tratar do turismo de Batatais, pois para o Pe. Pedro “as telas de nossa Igreja são os únicos atrativos turísticos de nossa cidade”. Já o professor de Filosofia do Curso de Direito da Universidade Paulista José Carlos Garcia de Freitas que acredita que as telas prejudicam o “funcionamento” tradicional da Igreja, pois os visitantes ou curiosos que vão à Igreja, muitas vezes se esquecem dos fiéis que estão ali em busca de silêncio, de oração, de paz, o que, para o professor gera a necessidade de um lugar específico para as telas além da questão de preservação do patrimônio artístico.
O apelo popular é muito grande para que os órgãos responsáveis tomem as devidas providencias a Locutora Monica Nicolau é mais uma prova disso, “Eu já realizei uma visita na igreja Matriz para ver as telas deste artista, mas eu acho um tremendo descaso principalmente pela memória do artista e do valor histórico das obras em deixá-las  expostas sem manutenção durante todo esse tempo”. Frente a todas essas manifestações populares e de profissionais da arte, a prefeitura diz já ter entrado com trâmites legais para a restauração das telas e que várias empresas já a procuraram para uma possível parceria. 
Para o desenhista Edison Rodrigues Ravanhani, a restauração das obras é suma importância, “Nossa cidade recebe visitas da região, e também do exterior, conservação é obrigação, pois quando se fala de Portinari, com certeza, em qualquer lugar do mundo, Batatais será sempre lembrada”. A Pesquisadora Cultural Alessandra Baltazar concorda com Edison e afirma que o caminho mais viável para a restauração é através das Leis de incentivo e isenção às empresas interessadas em realizar as reformas. 
O que fica claro é que há um jogo de “empurra- empurra” entre os órgãos competentes e, a cada dia que passa, as dificuldade para a reforma destas obras são maiores. A esperança é que nos próximos anos, os novos (ou os mesmos) representantes se solidarizem com a situação das telas, e que tomem medidas eficazes a este Patrimônio Cultural o qual, deveria ser valorizado da forma que merece. 

Museu Cândido Portinari
O principal museu de Cândido Portinari fica em sua cidade natal, na pacata Brodowski-SP a aproximadamente 340 quilômetros da capital. O museu está instalado em uma antiga casa da cidade onde Portinari residiu durante sua infância e juventude. No local, além das obras, há moveis e objetos usados por ele e por sua família.
O museu é de livre visitação e disponibiliza profissionais capacitados para acompanhar o público e para cuidar deste patrimônio nacional.
Mais informações no site: http://www.museucasadeportinari.org.br/

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