sábado, 30 de junho de 2012

Portal das Bandeiras: Histórias da mini – cidade

Herena de Oliveira



A vida nos condomínios. Pequenas cidades dentro de cidades. Muito procurada atualmente devido à correria diária as pessoas buscam, principalmente, segurança. Para os que moram sozinhos é perfeito.
No entanto, os condomínios por serem comunidades onde pessoas de diversas e divergentes opiniões, modos de vida, religiões e costumes vivem apresenta os mesmos problemas que uma cidade.
E dentro de seus muros, esconde diferentes histórias. O Condomínio Residencial Portal das Bandeiras, no Parque Bandeirantes é considerado seguro e tranquilo. A rua é sem saída e tem pouco movimento. A vizinhança é pacata.
A cidadela possui nove blocos de sete andares com quatro apartamentos por andar. Tem estacionamento coberto – muito embora o número de vagas não seja compatível com o número de moradores –, playground para as crianças, quadra poliesportiva, um salão de festa por torre e uma portaria com porteiro 24 horas.
Seus moradores são figuras extremamente interessantes.  Uns vem para morar, outros vem para passar as férias, outros ainda para incomodar atazanar a vida alheia. Os funcionários prestam serviços à comunidade. A síndica nem sempre está presente, mas o zelador faz um bom trabalho. Faxineiras e faxineiros ajudam a manter a  mini cidade organizada e limpa. Embora nem toda a população contribua com isso.

Os personagens
Tudo começa na portaria, onde todos que entram e saem precisam se identificar. Porteiros 24 horas fazem o trabalho de segurança, o dia é dividido em três turnos: manhã, tarde e noite. O condomínio ainda conta com um funcionário folguista e um vigia noturno que ronda o condomínio enquanto os moradores dormem tranquilos em seus apartamentos.
Edivaldo da Mota, mais conhecido como Corintiano, é porteiro há quatro anos e meio no condomínio. Começou no horário da manhã e hoje é o porteiro da madrugada. É síndico no condomínio em que mora e acredita que o segredo do condomínio é manter a ordem. O porteiro acaba se tornando uma espécie de confidente, de guardador de segredos, de mantenedor da ordem. Estando em sua posição ele vê coisas, ouve coisas e essas são algumas de suas histórias.
“Quando eu fazia o turno da manhã, lá do bloco 05 por volta das onze e meia da manhã, uma moradora ligou reclamando da sua vizinha que estava martelando a parede, tava batendo em alguma coisa, e no condomínio tem regulamentos, de sábado e domingo não pode fazer barulho. Então ele confirmou qual era o apartamento da vizinha que estava fazendo barulho e interfonou lá. Para sua surpresa a vizinha “barulhenta” lhe perguntou se não podia nem martelar um bife para comer no almoço, na casa dela.”
Isso mostra como é a convivência em um condomínio. Cada um achando que o outro está ferindo seu direito, invadindo seu espaço.
“Tem outra história também, de uma agressão.” Um morador que morava com seu companheiro no bloco 01 ligou na portaria pedindo por socorro porque estava sendo agredido. O porteiro nada podia fazer, disse para chamar a policia. No mesmo dia a pessoa foi embora de mala e cuia dizendo que não voltaria mais. Uma semana estava de volta. E aconteceu novamente, o companheiro bateu nele de novo e dessa vez ele fez as malas e não voltou mais.
Maria Rosário Lopes da Silva Luiz mora no condomínio há 12 anos. Ela acredita que o condomínio é uma comunidade diversificada e que “para viver nessa comunidade você deveria fazer um curso, porque é complicado conviver com as pessoas”. 
Hoje em dia morar em condomínio é segurança, mas também é sinônimo de perca de liberdade, de vida própria. Você fecha a porta de seu apartamento e não pode dizer que está fechando a porta como se você tivesse uma casa que do portão para dentro você faz o que quiser. No apartamento, mesmo de porta fechada você tem o vizinho de cima, o de baixo e o do lado. Além disso, não pode dizer que é seu imóvel porque você paga por ele todo mês, a taxa do condomínio, que pode ser comparada a um aluguel “eterno”, que é o preço que se paga por preocuparmo-nos com a segurança.
E a falta de liberdade já começa quando você entra no condomínio. Tem o porteiro que vigia quem entra e quem sai. E tem também as regras do condomínio, que uns respeitam e uns se acham no direito de não respeitar. E os problemas são inúmeros. Afinal, conviver em família que é parente já é difícil, imagine conviver nessa “grande família” que é o condomínio. E é complicado porque muitas pessoas que moram em condomínio não tem a mentalidade de, por exemplo, manter o lugar limpo porque não é só dela, especialmente neste condomínio em que é permitido animais. 
 “O bom de um condomínio é um condomínio pequeno. Onde tem um prédio. Eu falo comparando porque eu já morei em apartamento que não era um condomínio grande. Era um edifício com vários apartamentos, era bem mais fácil. Porque aí é tranquilo, é um elevador pra lixo, um elevador social e fica tudo mais limpo, mais tranquilo.”
“Mas é morar num condomínio. Hoje a gente fala que é procurar segurança. É a única vantagem. Não existe outra!”, afirma o aposentado Fernando Martins da Silva que mora no condomínio há cinco anos. 
Fernando trabalhou como sapateiro, entregador de gás, vendedor, zelador e porteiro.  Gosta de viver no condomínio, mas acredita que numa comunidade deve estar sempre havendo melhoras. 
Maria Aparecida Pupin, a Dona Cida, é dona de casa. Mora no condomínio há dez anos. Antes dela era o filho que gostava muito de morar aqui. Pelo fato de ser uma cidade dentro da cidade, está bom. Você tem a segurança de sair e saber que vai voltar e encontrar tudo no mesmo lugar que deixou. “Apesar de falarem que em apartamento ninguém conhece ninguém, eu conheço todos os meus vizinhos aqui, são muito bons.”
Para Cida o ponto chave de um condomínio é um síndico que consiga prezar pela ordem. 
Paulo César de Siqueira mora no 53, adora ler e conversar com ele é também adentrar o universo da literatura. O Paulinho, como é mais conhecido, mora no Portal das Bandeiras há sete anos, e este é o terceiro condomínio que ele mora. Ele diz que dos três esse é o melhor, que aqui é tranquilo e seguro e que tem uma particularidade que ele acha muito interessante: “... é um condomínio de classe média baixa, mas onde todo mundo tenta ser classe média alta então isso faz com que a civilidade aumente e a convivência se torne mais agradável.”
Morar em condomínio é perder a privacidade, pois tem janelas e olhos por todos os lados. O lado positivo é que alguns vizinhos se tornam parentes, ajudam quando precisa e, além disso, morar em uma mini – cidade também tem uma característica que ocorre muito nas cidades: a divisão das pessoas em comunidades menores, como a que o Paulinho frequenta aqui que se reúne toda semana para rezar o terço. Acaba sendo um grupo mais próximo, mais amigo.
“Um detalhe que eu acho interessante de morar em condomínio é a frieza com que você se relaciona com seus vizinhos. A frieza e o calor, porque ora você é muito próximo e ora você é muito distante. Ao mesmo tempo em que você vê de perto o que está acontecendo você não se sente próximo o bastante para se ‘intrometer’ na vida da pessoa, seja para dar uma palavra de conforto ou um conselho... Esse é um detalhe de se morar em apartamento também porque está tão próximo e também tão distante.”
E a vida no condomínio Portal das Bandeiras é assim: uns satisfeitos, outros nem tanto. Mas nenhum deles abre mão da segurança oferecida por morarem em um condomínio.

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