sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pessoas no semáforo: você ajuda?

Thiago Forato, José Carlos Caffer Neto e Luan Dimas


Nossa reportagem esteve por três dias em diferentes semáforos da cidade de Ribeirão Preto observando aqueles que lá estão para conseguir dinheiro. É um meio de sobrevivência. Senhor Batista, de 73 anos, que o diga.
Há 50 anos em Ribeirão, Batista é um verdadeiro nômade dos semáforos. Apenas pede e não tem vergonha disso. Trabalhou na roça por 30 anos, natural de Divinópolis, interior de Minas Gerais, tem apenas um irmão com o qual não mantém contato. Com roupas rasgadas, semblante triste, barba por fazer e um boné de marca que ganhou do proprietário de uma Ferrari, na Avenida 9 de Julho, ele ganha nas ruas, em média, R$ 30 por semana. “Com esse valor eu consigo sobreviver, e tem sempre alguém que me ajuda. Passo nos restaurantes e quase sempre me recebem muito bem, graças a Deus”, disse. O boné, lembra ele, foi dado quando o dono tinha acabado de comprar, mas no meio do caminho, não gostou. “Ele pegou e me deu, dizendo para fazer dinheiro com isso. Mas acabei gostando e está na minha cabeça até hoje”.
Perguntado sobre o que espera da vida daqui para frente, vem uma resposta que choca: “Espero apenas a morte”, disse Batista, sem qualquer tipo de perspectiva futura.
Já Laurenci tem 49 anos, natural de Brejo dos Santos, no Paraná, é aposentado por conta dos medicamentos que toma – diariamente, ele precisa tomar Gardenal – um anti-convulsivo. Laurenci tem 18 cachorros e vai levando a vida com um sorriso no rosto, nunca morou sob um teto. Atualmente, possui um barracão ao lado do Parque Curupira. Está há 19 anos em Ribeirão e não se preocupa muito com o futuro. “Vou vivendo a vida, ganho R$ 120 por semana, dá pra viver, e minha vida são esses cachorros. Como posso ficar triste? Claro que espero coisa melhor, como um trabalho, tenho que ser otimista”.

O malabarista Pedro Aguiar está diariamente na Avenida 9 de Julho, no período noturno. Feliz pela coordenação motora que possui, lembra  de uma frase bastante clichê: “Poderia estar matando, me prostituindo, roubando, mas estou aqui fazendo meu show, meu espetáculo. As pessoas gostam. Teve uma vez que uns adolescentes bêbados, 2 da manhã, pararam e me deram R$ 300 em notas de 100, ganhei meu mês inteiro em fração de segundos”, diverte-se.

Esmola ajuda?

É o que muitos questionam, mas todos os personagens desta matéria creem que sem ela, não iriam sobreviver. Pedro, contudo, alerta que não pede esmola já que pratica seu show e o “público” dá se quiser.
Valéria Valente, publicitária, acredita que é preciso analisar cada caso. “Não gosto de dar, mas como cada caso é um caso, acabo ajudando algumas vezes. Existem casos de extrema necessidade”, conclui.
A mineira de Belo Horizonte, Izabella Souza, não dá esmolas e pensa que dar dinheiro, em nada ajuda. “Quase sempre são uns cachaceiros ou drogados, quem tem vergonha na cara vai trabalhar. A esmola é o cúmulo da depreciação do ser humano. É degradante tanto dar quanto receber”, reclama.
Enquanto nossa equipe esteve presente, observando pedintes e contribuintes, poucos, de fato, foram capazes de abaixarem seus vidros. Há uma espécie de barreira, não só física, como econômica e preconceituosa. Em um dos casos, vimos um motorista chamar um mendigo de “Monkey cachaceiro” e o mandando fazer alguma coisa da vida, a palavra inglesa ganha um peso pejorativo e preconceituoso.  
Todas essas pessoas com que estivemos sofrem diariamente algum tipo de preconceito e são tratados, por vezes, com indiferença pela sociedade. Falta oportunidade, e o tripé básico para que um país seja soberano: saúde, segurança e educação. O Brasil, um país emergente, tem uma economia de dar inveja ao resto do mundo. Porém, com toda essa desigualdade e renda mal distribuída, nunca chegaremos a um denominador comum. Caminhamos a passos de tartaruga e evoluímos pouco, perto do que poderíamos evoluir.
Quem muda isso? Nós mesmos. Se cada um acredita ou não, é uma outra discussão, na crença no próprio ser humano.

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