Inaugurada em 1911, a antiga Cervejaria Antarctica Paulista obteve sucesso na época em que esteve ativa.Tanto que chegou a financiar as obras do Theatro Pedro II, inaugurado em 1930 e, após seis anos, abriu o Snooker Pinguim. Ainda na década de 30, contribuiu com a implantação do Bosque Municipal, em 1937, e com a criação da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, no ano seguinte.
Segundo o arquiteto e urbanista Cláudio Henrique Bauso, membro do CONPPAC (Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto), a Companhia Antarctica nasceu em São Paulo, em 1888, mas foi em 1911 que o grupo ampliou seus projetos e construiu uma filial na Avenida Jerônimo Gonçalves, próxima a Estação da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro. Atraídos pela produtiva terra "roxa", os donos da fábrica resolveram maximizar seus lucros e fazer crescer a cidade, até então pouco populosa. Os principais elementos que culminaram na escolha de tal cidade estão nas terras férteis e na água doce originária do aquífero Guarani.
A Companhia Antarctica Paulista foi uma das primeiras grandes indústrias a ser instalada em Ribeirão Preto e encerrou suas atividades em 2005. Em 2002, ela foi vendida para a empresa mexicana FEMSA (Fomento Económico Mexicano, S.A.B.) e efetivamente desmontada em 2005, deixando cerca de 350 famílias desempregadas.
O valor histórico do local é imensurável e rende estudos contínuos. Para Bauso, o local segue um estilo arquitetônico onde as fachadas têm rigor geométrico e ritmo linear, trata-se de um cartão postal de Ribeirão Preto e hoje é vista obsoleta e ociosa na cidade, alvo certo dos especuladores imobiliários.
O local tem muita história para contar, tanto que em 2009 foram descobertas cerca de 10 mil plantas arquitetônica originais, sendo dessas 300 históricas. De acordo com Cláudio, no dia em que descobriu as relíquias havia uma equipe de topógrafos tentando separar arquivos sobreviventes em meio a balanças, maçaricos, sucatas e máquinas inoperantes, e foi neste momento que ele entrou em uma sala isolada e se deparou com as plantas.
Uma matéria divulgada no jornal A Cidade em novembro de 2009 (leia no final da página) noticiou o fato de maneira superficial e não deu a importância devida a descoberta. Hoje, as plantas passam por um processo de recuperação e manutenção para que sejam apresentadas no momento mais oportuno, que seria talvez na tão falada revitalização do local.
Cientes do valor histórico da antiga cervejaria, no dia 11 de fevereiro de 2004, o até então presidente do CONPPAC, Cláudio Henrique Bauso entrou com um pedido de tombamento provisório da Avenida Gerônimo Gonçalves visando a preservação histórico-cultural da Avenida, um dos cartões postais da cidade e arredores, que incluía a Companhia Antarctica Paulista.
O pedido foi assinado por Vera Lúcia de Russi, oficial administrativa de protocolo e arquivo da Prefeitura, e toda documentação foi enviada ao Secretário da Cultura para que fossem providenciadas as publicações necessárias. Assinado por Cláudio e por Edson Salemo Junior, arquiteto e secretário do CONPPAC na época, a solicitação foi encaminhada também ao Ministério Público para que o veredito do pedido chegasse o mais rápido possível.
Outro pedido foi enviado, no dia 08 de julho de 2004, só que desta vez com a intenção de conseguir o tombamento definitivo do local. O processo de já estava em andamento, o grande desafio do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto (CONPPAC), seria conseguir o aceite do pedido. O prazo estipulado para a manifestação da concordância, ou não, do tombamento foi de 15 dias para a finalização do processo.
Logo surgiram algumas adversidade que dificultaram o andamento e a concretude do processo. A prefeitura alegou a ausência de documentos importantes, dados primários e a identificação do bem e do proprietário impossibilitando a deliberação de abertura do processo de tombamento e notificação do proprietário. O processo tramitou com órgãos administrativos, tais como: Secretaria da Fazenda – Marcos Furquim; Secretaria da Infra-estrutura – Israel Higino Fávero de Aguiar; Secretaria da Cultura/ Arquivo Histórico – Tânia Cristina Registro; Secretaria de Planejamento –Ângela Games Sanches Souza e Francisco do Carmo Nucitelli; Secretaria dos negócios jurídicos – Juliana Galvão Pinto; Secretaria da Cultura – Misael Dentello.
No dia 22 de outubro de 2004, a decisão saiu foi publicado o parecer que desagradou todos os membros do CONPPAC :
Em 2011, o estudante Matheus da Costa Gomes, não encontrado até o momento para se pronunciar, que solicitou o tombamento da fábrica, como mostram os documentos abaixo:
Pedido:
Resposta:
Matheus solicitou tombamento em 2011 e a partir desta ação, mudou-se o rumo do local, uma vez que já havia investidores interessados em compra-lo. O pedido gerou discussões e uma análise da prefeitura que acionou os futuros empreendedores e o CONPPAC.
De acordo com a notícia veiculada no jornal A Cidade, em março de 2012, o tombamento da cervejaria foi concedido oficialmente ao CONPPAC. Assinada pela presidente do conselho, Dulce Palladini, os prédios e o acervo público passaram a ter proteção especial até decisão final sobre o processo.
As especulações sobre o futuro do local ocorrem desde 2009 e uma das pessoas que mais se pronunciou sobre o assunto na imprensa foi o vereador Maurílio Romano que partiu sempre em defesa da preservação e revitalização da antiga fábrica.
Em entrevista radiofônica concedida aos jovens Fernando Belezine, Heloísa Zaruh, Ícaro Ferracini e Victor Prates, em setembro de 2011, Maurílio já dizia algo sobre a possível construção de um Shopping Center naquele local, ressaltando que isso realmente revitalizaria a região incrementando o comércio, sem esquecer a importância cultural daquela área para muitas famílias da cidade.
Romano defendia a ideia de convencer os futuros proprietários a preservar um espaço do local onde poderia ser instalada uma exposição permanente de equipamentos, documentos, relatos e fotos que marcaram a presença da Cia Antárctica Paulista na história da cidade.
“A história deve ser preservada, pois faz parte de nosso povo e da nossa cultura”, afirmou o vereador.
Maurílio ainda afirma que em 10 de fevereiro de 2009 ao tomar conhecimento de que o antigo prédio da Companhia Antárctica havia sido adquirido e que os empreendedores pretendiam instalar um Shopping Center, enviou um requerimento solicitando a prefeita municipal que intercedesse junto aos empreendedores no sentido de “reservar um local no novo empreendimento para exposição permanente dos equipamentos daquela empresa, como recordação da antiga indústria”.
Ainda de acordo com Maurílio a prefeita Dárcy Vera achou importante a sugestão e declarou que a cidade precisava realmente preservar este patrimônio .
A prefeita afirmou que concordava com o pedido do vereador e reiterou que o local trata-se de um prédio muito importante para a cidade e em especial para o bairro da Vila Tibério. Dárcy acredita que a cervejaria colaborou em muito com o desenvolvimento de Ribeirão Preto empregando muitas pessoas e contribuindo com a consolidação econômica do município.
O vereador Maurílio complementa as informações da prefeitura dizendo que acredita que a construção desse complexo comercial, trará grandes benefícios para nossa cidade, a destacar: criação de um grande número de empregos, desenvolvimento do turismo de negócios e comércio e aumento da arrecadação de tributos para o município.
O projeto que aliaria preservação cultural histórica da antiga Cervejaria Antarctica ao desenvolvimento econômico da região tem gerado muitos murmurinhos, mas o que tem ocorrido de fato são planejamentos e levantamentos detalhados da área realizados pelo CONPPAC.
Cláudio confirma que Itamar Suave realmente é um representante dos empreendedores de Ribeirão Preto junto com Antônio César Merenda e Marcela Bergamo (Cem Empreendimentos) de Jaboticabal, mas diz não saber os nomes dos demais. Ainda de acordo com Bauso estes investidores compraram a Antarctica por 17 milhões e venderam a ideia aos demais empreendedores por um valor de aproximadamente 100 milhões
De acordo com a prefeita Dárcy Vera, uma reunião foi realizada em novembro de 2011, quando o grupo de investidores se apresentou e revelou o projeto que pretendem anunciar neste ano ainda.
De acordo com Cláudio, os investidores contrataram os serviços de dois especialistas, um professor doutor da USP de São Paulo o arquiteto Marcelo Carlucci e Lúcio Gomes Machado arquiteto Diretor da GMAA (Gomes Machado Arquitetos Associados).
Os especialistas desenvolveram um projeto riquíssimo em detalhes, com fotos e desenhos da futura estrutura. De acordo com o projeto apresentado e atendendo ao pedido de preservação histórica emitido pelo CONPPAC, serão construídos um shopping center, prédios residenciais, prédios comerciais, uma passagem para o transporte urbano será aberta, o sentido de algumas ruas serão modificados, para facilitar o trânsito no local.
Em acordo com os relatórios apresentados pelo CONPPAC, a obra respeitará os espaços considerados históricos e que ainda possuem arquitetura da época. Abaixo a planta sinalizando (em verde) as edificações indicadas para preservação:
A preservação do local terá a finalidade de abrigar o Memorial da Antarctica. A ideia principal, de acordo com o Cláudio era de construção de um museu, mas exigiria uma análise muito mais ampla e investimentos muitos maiores do que o previsto. Porém, mesmo sendo um memorial não torna o projeto inferior, pois necessita atender a uma série de espaços e serviços.
O material (estudo do pavilhão histórico) patrocinado pelo próprio empreendedor visa à utilização das peças originais da fábrica, as plantas antigas que serão expostas, a caixa d´água também será mantida como símbolo.
Ribeirão Preto finalmente terá acesso ao patrimônio histórico que tanto movimentou a cidade na década de 30. Mesmo com um direcionamento totalmente comercial, a iniciativa do jovem colocou em questão tudo o que o espaço proporcionou e pode proporcionar a todos os moradores.
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